Pensar e não escrever é como guardar uma lâmpada sob uma caixa, privando todos de sua luz.
Ainda que saiba quase nada, tenho que escrever, que multiplicar, que iluminar — ainda que seja como um único fósforo. Ao menos para retribuir o muito que aprendo, o muito que sou iluminado pelos que me cercam, pelos que leio.
Escrevo para construir uma pequenina obra, para seguir o conselho de Mário Quintana, cuja frase deixou recomendada para gravar em sua lápide: “Eu não estou aqui…“. E não está mesmo, está em suas obras, multiplicando… e iluminando ainda.
Premito-me repetir aqui, o que escreveu Rubem Alves, sobre essa frase, num trecho de “O vírus da gripe literária“:
“Epitáfio é uma frase que se grava numa lápide, contando algo sobre o enterrado. Já escolhi a minha. Não é original. É a mesma de Robert Frost: ‘Ele teve um caso de amor com a vida…’
Quintana, sabendo que a morte o esperava em alguma esquina, escolheu a sua: ‘Eu não estou aqui…’ Já imaginaram? Caminhando pelo cemitério, as lápides se sucedendo graves e fúnebres. ‘Aqui jaz…’, ‘Aqui jaz…’. De repente os olhos batem na frase ‘Eu não estou aqui’, que é o mesmo que ‘Aqui não jaz…’. É possível evitar o riso? É possível evitar amar quem assim brincou com a própria morte?”
Já deixo aqui recomendado, copiem, escrevam isso na minha lápide também.
“Eu não estou aqui…“